terça-feira, 27 de março de 2007

Ela voltou diferente

Um dia voltei para casa diferente. Depois de um dia amargo, meus sentimentos não cabiam em mim. Ao passar pela porta, o meu peso dobrou, minhas costas pesaram. Encontrei com meu marido e sorri. Sorri um sorriso diferente. A sala com os móveis que escolhemos juntos, todas as fotografias revelando nossos momentos alegres; tudo tão colorido. Essas cores agora me atacavam. No meu rosto uma tristeza sem fim, a minha cor era uma só: cinza. O tempo fechou para mim.

- Como vai? - Não o abracei, não o beijei, só falei isso ao passar por ele.

Não esperei a resperei resposta. Fui direto para o banheiro tomar meu banho. Esfreguei, esfreguei, esfreguei como se o sabonete fosse tirar toda aquela sujeira de mim. As minhas lágrimas confundiam-se com a água do chuveiro que gotejava - a única diferença era o extremo calor das minhas lágrimas, enquanto a àgua do chuveiro descia mais gelada que nunca.

Fui sozinha para a cama, me perdi nos lençois, meu marido entrou no quarto e beijou meu rosto como se perguntasse "eu fiz alguma coisa? Você está zangada comigo?". Naquela noite fria, não consegui dormir, fiquei pensando no que fazer. Eu voltei para casa um tanto diferente e ele havia notado. A cama parecia ter a extensão de um quilômetro, nossos corpos não se tocavam.


Na manhã seguinte assim que acordei, troquei de roupa e o chamei para conversar. Vesti uma roupa preta. Luto. Falar com ele vestida com minha camisola rosa parecia muito irônico. A suavidade do rosa não condizia com a minha trapaça. Sentamos na cama de um quilômetro. Cada um em um canto. Nossos corpos ainda não se tocavam.


Comecei a falar coisas da nossa vida, de repente a minha apatia na frente dele se transformou em uma fusão louca de sentimentos. Chorei e a cama voltou a seu tamanho normal. Ele olhava para mim sem entender e pegou em minha mão. Nossos corpos finalmente se tocaram, mas não parecia certo. Levantei e disse que havia feito uma coisa errada. Agora sentia vergonha. Vergonha de mim, dos móveis que escolhemos juntos, das alegres fotografias, das cores, de viver ao lado dele.


Ele levantou da cama e abraçou meu corpo. Não havia mais nada entre nós além da minha culpa.


- A gente esquece o que passou. Seja o que for. - Ele me falou sorrindo.

Não entendi aquelas palavras. Agora tudo estava vermelho, minha cara encardida e meu mundo desabava em minha frente. O perdão desta vez não soou tão divino, esta reação partiu mais o meu coração. A comprovação da boa índole e do amor do meu marido após a comprovação da minha falta de caráter - somente de caráter, não de amor, eu o amava - só aumentou a dor. As paredes do quarto agora me oprimiam. As cores ficaram furiosas. Fui embora, então, e nunca mais voltei. E foi assim que tudo acabou.

quinta-feira, 22 de março de 2007