quinta-feira, 26 de abril de 2007

Pare de me olhar assim

- Quase todas as histórias de amor e ciúme acabam em merda. Você vai querer entrar nesta loucura Flávia? Pare de desconfiar.

- Não é ciúme!!! E eu não tô desconfiando. Aquela mulher dá em cima de você sim.

- Pare com isso. Pare de me olhar assim. Porra, você sabe que é única para mim. Nunca vou colocar isso na sua cabeça? Você não vai enxergar isto nunca se continuar cega de ciúmes.

Flávia não respondeu nada, saltou do carro e bateu a porta. Fernando seguiu o caminho até sua casa resmungando. O ciúme desgasta um relacionamento da maneira mais mórbida. A relação de Flávia e de Fernando nunca havia tido problemas com isso. Somente de um tempo para cá que Flávia encarnou com a colega de trabalho do Fernando. Ele nunca deu motivo para tal desconfiança, sempre foi louco por Flávia e todos sabiam disso – inclusive ela.

No outro dia, tudo parecia estar normal, apesar de Fernando ainda estar bem chateado por causa da discussão de ontem à noite. Ele foi para o trabalho. Após a cansativa manhã a tão esperada hora do almoço chegou. Como de costume ele foi ao restaurante da rua atrás da empresa. Nunca gostou da comida do refeitório do trabalho. No caminho encontrou Patrícia.

- Oi Fernando. Bom dia... ou boa tarde! Meio dia em ponto. Eu nunca sei qual usar.

- Ahhh, para mim que ainda não almocei é bom dia.

- Eu ainda não almocei também. Vou procurar qualquer restaurante por aqui. Não agüento mais comer no refeitório. Ô comidinha de merda.

- Então vem comigo. Eu como todo dia num restaurante logo ali. A comida é razoável e é baratinho.

Os dois saíram juntos em direção ao tal restaurante. Fernando pediu um frango grelhado e a Patrícia ficou na salada. A conversa estava boa, de repente entra alguém gritando no restaurante. Era uma voz feminina. Era uma voz conhecida. Era Flávia aos berros que já chegou à mesa de Fernando e Patrícia derrubando pratos, garfos, facas.

- Única? E eu quase acreditei nessa porra. Eu sabia que alguma coisa estava acontecendo. Essa filha da puta! – Flávia gritava quase voando em cima de Patrícia.

Fernando levantou, agarrou forte Flávia pela mão e a levou para fora do restaurando – que nunca vira uma cena tão empolgante. Patrícia ficou na mesa chocada, ainda sem acreditar e assimilar a situação.

- Você é maluca caralho? – esbravejou Fernando.

- Maluca? Eu sou uma vitima. Como você pôde fazer isso comigo?

- Eu não fiz nada! Você que está fazendo. Ta perdendo o juízo e a noção. Essa não foi a mulher que eu conheci.

- Eu te amo. É porque eu te amo.

- Fácil falar sobre o amor, todos falam! Suas últimas atitudes demonstram o oposto. Você não deve nem se amar para encarar um papel desses. Eu vou voltar pra empresa.

E assim ele deixou Flávia chorando na esquina do restaurante. Fernando estava furioso e ao mesmo tempo triste, profundamente triste. Assim que chegou ao trabalho foi procurar Patrícia para pedir desculpas. Depois terminou o que ele deixou pendente antes do almoço e saiu mais cedo. A gravata agora o enforcava mais e o dia havia virado noite.

Quando ele chegou em casa tinha um recado da Flávia em sua secretária eletrônica. “Fê, desculpa. Eu te amo e tenho muito medo de ter perder para outra”. Ele apagou a mensagem e foi deitar. Era como se Flávia não o enxergasse mais.

Flávia do outro lado estava arrasada. Um misto de vergonha e medo. Todavia ela continuava acreditando que Fernando estava a traindo com a colega do trabalho. Após ligar diversas vezes para o celular de Fernando - até ele desligar o aparelho - e beber uma garrafa de vinho, saiu de casa.
Fernando passou horas pensando, olhando para o teto que parecia alto demais, quase sem fim. Não conseguia alcançar suas idéias. Como começou esse ciúme, essa desconfiança? Não chegava a nenhuma conclusão. Resolveu passar na casa da Flávia para resolver toda essa confusão.

Bateu na porta apesar de ter a chave da casa dela. Insistiu. Pegou sua chave e entrou. Ela pode estar dormindo ou no banho, supôs Fernando, e se não estivesse em casa, ele a esperaria. Foi caminhando até o quarto e aí veio a surpresa. Roupas espalhadas pelo chão, duas taças na mesa de cabeceira e um completo estranho comendo sua namorada ciumenta.