sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Uma Brisa


Estava sentado na frente da minha escrivaninha há 3 horas. Nada saia, eu só pensava nela. E também, para que pensar noutra cousa? Ela é emoção. Para o meu azar e também a minha sorte ao fundo rompendo o silêncio Oswaldo Montenegro sussurrava "metade de mim é amor... e a outro também". Resolvi sair. Fui até o cais. A maré enchia, meu peito seguia a oscilação. A brisa inofenciva passava recortando meus pensamentos. Foi em vão? Não, não foi. Até esta dor salgada vale a pena dentro desta imensidão azul e suave que invadiu meu corpo. É salgado. Às vezes quente, às vezes frio. Às vezes é calmaria, às vezes tempestade. Mesmo as piores tempestades e rebarbas fascinam... O que fazer? Nada. Somos o transbordamento da paixão.

Minha sede

Que coisas são essas que me dizes sem dizer, escondidas atrás do que realmente quer dizer?
Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias. Mas confuso, perdido, sozinho, minha única certeza é que de cada vez aumenta ainda mais minha necessidade de ti. Torna-se desesperada, urgente.
Eu já não sei o que faço. Não sinto nenhuma alegria além de ti. Como pude cair nesse fundo poço? Quando foi que me desequilibrei?
Não quero me afogar: Quero beber tua água. Não te negues, minha sede é clara.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Like Knives

- Iremos contrariar nossos sentimentos? - foram as últimas palavras que Rodrigo falou. Alice não se moveu, nada disse. A pergunta ficou no ar (às vezes o silencio é a melhor resposta?). Rodrigo entendeu tudo (e absolutamente nada). Foi embora. Na cabeça de Alice explodiam sensações.

A suave pele de Rodrigo ainda tocava a sua em pensamento. A vontade ia contra a razão. Não era legitimo. Mas há legitimidade para os sentimentos? Lembrou-se das palavras dele mais cedo: "Esse não podemos - como você diz - me remete a uma barreira e não ao impossível". Era verdade, sabia disso, mas tinha consciência da realidade. Nada iria acontecer e a escolha já estava feita. Pura contradição... Era terno e cruel.

Nos braços dele com o vento no rosto pôde experimentar uma vivacidade nova. Não melhor que a que já vivia apenas nova. Coração batia forte, a respiração dela demonstrava tudo que sentia. Os dedos dele passeavam por seus cabelos embaraçados. Ela de repente sentiu o rosto quente de Rodrigo tocando o seu, mas... A boca doce dele nunca tocaria a dela. Aquele último cigarro que fumaram juntos foi o mais próximo que as bocas deles chegaram a se encontrar.

Alice também saiu, mas olhando para trás querendo reter a última imagem de Rodrigo por mais tempo que pudesse. Como se nunca mais o fosse ver. Assim eles se despediram.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Aos paulistas.

Meu Coração,

Após o banquete de fast-food na Paulista ficamos lá esperando os ônibus passarem. Cada um para seu lado. O meu ônibus foi o último a chegar, não demorou muito não (mas durou uma eternidade).

A manga da camisa ficava cada vez mais molhada. Sua cor verde - agora umidecida - se tornara parda. E eu ainda tinha a esperança de revê-lo este ano. Mas se bem me conheço, meu anjo, a razão do choro não era essa.

O que realmente me afligia era a posse da certeza de não tê-lo mais em meus dias. Tenho sede, ansia pela sua companhia. Quero comprar pão com você, ir comer uma pizza na esquina, de apertar um e nunca mais te soltar.

No momento que seu ônibus apareceu, diante dos meus olhos, a distancia se impôs. Um vai; outro fica. Meu corpo estremeceu com um sentimento sem consolo. Ah! Quem dera eu pudesse anunciar nesta hora "a gente se vê amanhã". Acho que todos esses poucos dias me deixaram mal acostumada. Comecei a lembrar do cheirinho da sua cama, do seu travesseiro, da sua parede... Enquanto estive em sua casa sozinha tentei captar o máximo da sua presença lá.

O ônibus cruzava a Ipiranga e a Avenida São João e eu lembrava dos nossos devaneios, dos nossos sonhos caprichosos. Poderiamos morar juntos, dormir e acordar juntos. Eu pegaria o metro Consolação e você o Ana Rosa para trabalhar. Sem pressa. "Alguma coisa acontece no meu coração".

Minha respiração já afoita, o sobe e desce do meu peito. Tudo intercalando pensamentos, lembranças e emoções em um só fato: a manga da camisa cada vez menos verde. Todos ficaram, e eu voei para longe. Longe do meu coração, longe do meu riso frouxo, de você. Me resta a saudade... Se cuide por ai e me espere até a próxima garoa.

Mil Beijos,


C.


PS - O Lula era punk.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

No Jardim


"Estou pronto. Não posso postergar mais", assim despertou do transe no qual embarcou nas últimas semanas. Sua vida havia parado. Neste impulso pegou o telefone e discou lentamente.

- Você está me ouvindo? - disse decidido.

Do outro lado da linha somente uns ruídos seguidos de um frio silêncio. Mas continuou decidido:

- Estou a caminho. Será rápido e será a última vez que incomodarei você.

Obteve consentimento e saiu em direção à sua dor. Ao chegar Toda a sua coragem foi murchando como uma flor que é arrancada do seu lugar, do seu caule, da sua terra. Sua cor já não se percebia. Sentiu vontade de acachapar-se e nunca mais atuar nenhum movimento. Num suspiro derradeiro, porém, expôs toda a sua glória de doente.

- Agora posso enxergar. Sou dono de olhos fundos, cobertos de desalento e razos. Passaram-se muitos dias até que tudo fizesse sentido. Nada faz sentido. A esfinge que alicia minha vida é o consentimento de sentir o que não deveria. Meu pensamento agora passeia por um jardim seco e vasto. Não posso voltar a ser o de antes, já não vivo mais em um corredor sempre na espera. Espero, porém, todas as noites sua voz, seu tom, seu timbre cantando para adormecer. Sorrindo, segurando sua mão, enrolado nos teus cabelos.

O único som naquele quarto era a respiração ofegante de ambos. Abilio e Melina nutriam-se apenas de apatia. Este sentimento, porém chegara ao fim para ele. Uma fusão de sensações invadiu Abilio, o ritmo do desabafo era alucinante até esta pausa. Sua expressão mudou, a confusão tomava conta da sua face. Continuou:

- "Por que saí do abandono de mim mesmo em que vivi?", essas palavras de Fernando Pessoa velam a minha insônia. Faço e refaço esta pergunta. Bastou o pouco que és e o muito que mostrou-me para este abandono se ofuscar. Agora tenho você, mas não te possuo. Isso não faz sentido. Nada faz sentido. Meu sono não faz sentido. Não durmo. Sua presença tornou-se um consterno intenso e frequente. Não consigo mais...

Foi interrompido por Melina que ensaiou dizer algo, mas o som da sua voz o torturava. Era como estar no paraíso, uma delicia, repugnante. Era a primeira vez que sentia isso. Atirou. Estava entre o que queria ser, o que era e o que acabava de acontecer. Caiu na cama, prendeu o folêgo que ainda lhe restava e dormiu. Finalmente dormiu. O quarto - agora vermelho - cheirava a margaridas.